* Wagner Odri

A indignação causada pela morte da menina Isabella de Oliveira Nardoni, de 5 anos, ocorrido em 28 de março em São Paulo, em circunstâncias ainda desconhecidas, é fruto de uma situação impensável e chocante para grande parte das pessoas: a agressão contra uma criança. Desde que a notícia passou a ser divulgada, perguntamos: como um adulto, quem quer que seja, pode agredir uma criança e jogá-la do 6º andar de um prédio? Que tipo de pessoa é esta? O que leva alguém a tomar essa atitude?
Nem sempre as agressões sofridas por crianças terminam da forma tão trágica como no caso de Isabella, e na maioria das vezes nem chegam ao conhecimento das autoridades ou da imprensa. Diariamente, centenas de crianças sofrem algum tipo de agressão ou abuso em seus próprios lares, na maioria das vezes praticadas por seus familiares ou pessoas muito próximas da família. Por seu lado, a criança agredida tende a carregar por toda a vida as marcas causadas pela agressão sofrida e precisa de tratamento, acima de tudo muito carinho, para superar esse trauma.
A experiência de uma ONG criada em 2006 para prestar atendimento psicológico gratuitamente a crianças vítimas de violência e seus familiares, mostra que os casos de violência contra crianças são muito mais freqüentes do que pensamos, e muitas vezes passam despercebidos por muito tempo, até que a criança apresente os sinais de que algo errado esteja acontecendo.
Quanto foi criada, esta ONG tinha como maior desafio combater o problema da violência contra crianças, principalmente as de famílias mais pobres e sem recursos para buscar um acompanhamento psicológico. Entretanto, é um engano pensarmos que somente entre as populações de baixa renda existem problemas relacionados à violência doméstica.
Além da agressão física, a distância entre pais e filhos das classes média e alta, muitas vezes quando os adultos da família estão mais preocupados com sua carreira profissional e vida social, tem resultados desastrosas para as crianças, e não deixam de ser uma espécie, ainda que camuflada, de violência, uma violência que não se revela pelo tapa, mas pela indiferença e omissão. As conseqüências podem ser tão prejudiciais à criança quanto o espancamento ou outras formas de abuso físico ou psicológico. Prova disso é o crescente aumento de casos de violência envolvendo jovens de classe média e alta. É preciso cuidar da nossa infância e juventude, independentemente de sua classe social, pois todos eles serão os herdeiros do futuro.

* Wagner Odri, presidente do IHF – Instituto Herdeiros do Futuro
* Artigo publicado no dia 07/04/2008 no Jornal da Tarde, em São Paulo